Definitivamente não
estamos acostumados com a perda. Desde pequenos, somos instruídos a ganhar, a
conquistar, a superar as dificuldades e nossas limitações para “conquistarmos
nossos sonhos”.
Mas, se pudéssemos
parar um pouco o tempo, veríamos que a vida é um misto de perdas e ganhos. E as
perdas em si são, na verdade, lições que devemos registrar em nossas memórias.
Sucintamente, poderia
falar de perdas aparentemente banais que modificam para sempre nossas vidas (em
maior ou menor grau), como perder o horário do ônibus, as chaves de casa, o
emprego, o prazo para pagamento de uma conta, o horário de colocar o lixo na
rua, a carteira com todos os documentos e o dinheiro para as despesas do mês, a
confiança no time que acaba de perder a decisão de um campeonato.
Poderia falar também
de perdas imensuráveis, como aquele amigo ou familiar que partiu sem que
tivéssemos tempo de lhe dizer o quanto ele era importante, o quanto ele era
imprescindível. Ou a perda precoce da infância, quando deixamos de nos encantar
com a maravilha que é o mundo e suas múltiplas possibilidades. Também poderia
falar sobre a perda da dignidade quando deixamos de tornar real o que falamos.
Perder dói. Dói na
alma. Dói fundo. Mas a dor transforma-se em martírio quando não se pode ou não
se quer erguer a cabeça para seguir em frente. Eis a pior de todas as perdas: a
perda da esperança. Quando o ser humano deixa de acreditar que existe esperança
e de que tudo pode ser diferente, de que tudo pode ser mudado, ele perde sua
essência, perde sua identidade, perde a si mesmo. Eis a pior de todas as perdas.
Superar as perdas,
evidentemente, não é uma tarefa fácil. Mas é preciso reerguer-se,
reestruturar-se, refazer-se da derrota. O primeiro passo, sem dúvida alguma, é
valorizar cada momento, cada instante, e torná-lo único, pois a vida é a soma
desses pequenos fragmentos. A vida pede pressa, mas é preciso ter calma para
não despejar um caminhão de ofensas ou de agressões gratuitas fomentadas pelo
fracasso ou pelo ódio. Não rogar pragas ou buscar culpados. Não se fazer de
vítima diante das circunstâncias.
Perder dói. Dói demais
na alma. Dói mais ainda porque durante a travessia, a pressa do tempo embaralha
tudo: esquenta e esfria, aperta e afrouxa, inibe e estimula. Mas a vida é
assim, dizia o mestre. O que ela quer da gente é coragem. E mostrar que, apesar
de tudo e de todas as coisas, ainda somos iguais, ainda somos humanos.
Perder é a arte de
reaprender a ser humano, a corrigir as imperfeições e retomar o curso da vida.
Ou não.
Perder é a arte de
reencontrar-se consigo mesmo e com Deus.