Wednesday 1 January 2014

Conviver, experiência necessária para harmonizar

 
Diz Mário  Sérgio Cortella, professor da PUCSP, que quando era mais novo, sua família se reunia nos fins de semana para fazer pamonhas. Ele, os primos, e os irmãos, saíam com os tios, colhiam o milho, tiravam os cabelinhos, e as mulheres enfim, faziam as pamonhas.
Depois de adulto, Cortella percebeu que sua mãe não queria na verdade, apenas fazer pamonhas. O objetivo principal daqueles encontros nos fins de semana era reunir a família. Daí, conclui o sábio filósofo, que é uma pena que a sociedade atual tenha perdido hábitos tão peculiares, mas de grande significância, nos chamando a atenção para o fato de que as famílias não se reúnem mais, não dialogam mais durante as refeições, não constroem seus sonhos de forma conjunta.
O individualismo, característica marcante da sociedade pós-moderna, tem tomado conta até mesmo dos lares, destruindo as relações afetivas e sociais.
Como reverter esse processo? Tem jeito? Sim, lógico! Não devemos nos esquecer que HISTÓRIA NÃO É DESTINO, ou seja, se a sociedade pós-moderna apresenta características individualistas e egoísticas, embasada na necessidade de suprir as exigências do mundo material, não significa que isso tenha de ser feito de uma forma fechada, por cada pessoa, sem a convivência familiar, de amigos e conhecidos.
Ninguém vive e se desenvolve sozinho.  Aristóteles já dizia que o homem é um animal político (de pólis), ou seja, necessita de uma sociedade para sobreviver, desenvolver...
Acontece que nos dias atuais, temos vivido em sociedade como se vivêssemos ilhados, porque optamos por isso. E quais as razões dessa opção? Muitas. Alguns alegam descrença nas pessoas, outros, a necessidade de se manter alerta num mundo competitivo, etc.
Independente de alegações, das mais diversas, devemos verificar que a falência nas relações interpessoais, é uma característica de nosso tempo.
Outro grande pensador, Frei Betto, diz que isso tem se dado, porque as pessoas não planejam mais nada juntas, não sonham juntas, apenas tem relações sem compromisso algum, baseadas muitas vezes apenas numa admiração pela beleza física, pela inteligência, ou uma somatória desses fatores, mas com um enorme medo de se prender, pois todos acham que o fato de amar alguém é estar preso. Daí surge uma outra questão importante: O que é ser livre de fato?
Independente de nossas especulações a respeito da liberdade humana, de seus problemas com as relações interpessoais, uma coisa me parece bem clara: tudo isso só se resolve com boa vontade por parte dos indivíduos das diferentes sociedades. Boa vontade no sentido de “olhar o outro e ver dentro” de uma outra pessoa...isso demanda vontade, sensibilidade...
Por volta de 2030, se todos os chineses por exemplo, resolverem assumir essa postura individualista, e começarem a largar sua cultura milenar, para aceitarem a estupidez da filosofia consumo, logo existo, precisaremos de quatro planetas terras devido a demanda de matérias primas que serão necessárias para a produção de produtos dos mais diversos, principalmente na área tecnológica, para manter o padrão dos chineses, como já temos no Ocidente hoje. E como faremos? Apenas chegaremos para o líder da China nesse tempo e diremos: “Olha, vocês querem fazer agora, o que fizemos sem pensar em vocês, devido ao nosso egoísmo, durante décadas. Mas, agora entendemos que vocês tem muito dinheiro para gastar, porém não podemos deixar consumir o quanto querem”.... – alguém acha mesmo que isso adiantará?
Sendo assim, pensemos que para haver um mundo melhor, é preciso nos harmonizar com as pessoas, com nossas famílias, com os filhos, olhando menos para nossos umbigos.
Termino esse texto com uma reflexão de uma frase, também de Cortella,  e que diz respeito a forma como  estamos educando as crianças atualmente, e a forma como isso pode repercutir no futuro: “O mundo que vamos deixar para os nossos filhos, depende dos filhos que vamos deixar para o mundo”
E como deixar filhos mais educados, espiritualizados? Talvez fazendo pamonhas com eles já seria um bom começo.
Uilson Carlos










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