O espírito do povo de mil anos atrás está aqui.
A terra, colinas e
montanhas têm vida dentro de si.
O chão onde pisamos tem
vida dentro de si.
Todas as nações chamam a
terra de Mãe Natureza.
Nossos antepassados nos
ensinaram a respeitar a terra, a tomar conta dela. Em troca, ela tomará conta
de nós.
Nossas forças derivam da
terra.
Estamos muito perto da
lua.
Muito perto do sol.
Estamos muito perto da
terra, da feminilidade da Mãe Terra.
Quando pensamos a
respeito dessas coisas, nos tornamos parte delas e elas se tornam parte de nós.
Oramos para a terra,
oramos para o céu, as nuvens, a chuva e a relva porque acreditamos que todas
essas coisas têm espírito. Até as pedras têm vida.
Antes de sair para
caçar, a coisa mais importante a fazer é rezar para a Mãe Natureza, para o céu
e, então, para o animal. Depois, chorar um pouco e pedir à Mãe Naturezaa que
nos forneça alguma carne. Quando entrar na floresta, você tem de ser o animal a
ser caçado.
Aqui, necessitamos de
chuva. É para ela que rezamos. É por isso que dançamos. Quando sair em busca de
comida, temos de agradecer por essas coisas estarem nas colinas, plantadas pelo
Criador.
As montanhas têm
espírito. As montanhas são sagradas. Lá há paz e fé.
As nuvens que circundam
são atraídas por elas. Há vida lá em cima.
Devemos adorar a terra, as
estrelas e o céu, pois eles têm espírito.
São os poderosos
espíritos que nos guiam, que nos ajudam a sobreviver.
Muito conhecimento
deriva da família. Ainda tentamos perpetuar esta tradição. Eu, por exemplo,
tento perpetuar as tradições do meu clã.
O clã que vive ao nosso
redor, que está aqui para proteger a minha família. Eu perpetuo e levo adiante
esta tradição. Ainda sou um guerreiro.
Sou um guerreiro porque
reivindico por meu povo e falo em seu nome.
Rogamos por nossas
crianças como rogamos pelas árvores.
Uma coisa que minha avó
me ensinou é que, sem família, não somos nada. Ela me ensinou a proteger toda a
minha família. E não é muito fácil hoje em dia ensinar isso para gente mais
jovem. Não sei se minha filha mais velha me defenderá quando eu precisar dela,
como agora eu defendo minha mãe.
As famílias são muito
importantes. Caso não existissem, haveria muita gente perdida. Sinto-me um
pouco perdido. Quando desejo encontrar a minha identidade, geralmente tenho de
ir a um museu para ver como as coisas eram quando meus pais eram jovens.
Nascemos com esse espírito, mas é nossa responsabilidade desenvolvê-lo de modo
que tenhamos orgulho de dizer: “Sou um Hopi” ou “Sou um Navajo”. É uma
tradição. Uma linguagem. Uma identidade.
Também estamos
envolvidos com o mundo animal, com o mundo vegetal e com o cosmos. A lição
fundamental é que devemos compreender isso e viver em harmonia com a terra e
todas as coisas que a habitam. É uma crença simples. É isso que faz os Hopi
serem fortes.
Tarde da noite. Começam
os cânticos.
Cantamos a respeito do
vento, das nuvens e das chuvas que alimentam o povo.
Quando morremos, vamos
para o Ocidente, vamos para a luz.
É um lugar poderoso para
começar e um lugar muito poderoso para terminar nossa existência. A terra tem
vida. A terra respira. A terra pode falar.
Certo dia, olhando as
nuvens, vimos uma dançarina de longos cabelos.
Em primeiro lugar, somos
artistas porque queremos criar. Depois, porque somos índios. Exprimimos nossa
cultura dessa forma. A arte que vemos nos índios é a espiritualidade,
agradecendo ao criador tudo aquilo que ele fez.
Haverá estradas no céu.
Usaremos caixas com rodas para nos locomover. Essas eram as coisas que
profetizávamoso quando éramos jovens. E pensávamos: como seria lá em cima, onde
as estradas seriam construídas? E aí estão elas, hoje. Pessoas lá em cima,
voando como pássaros.
Hoje reivindicamos
muitas coisas como se fossem nossas.
A terra não é nossa.
A vida não é nossa.
A língua não é nossa.
Alguém criou isso tudo?
Quando fomos para a
escola, o intérprete disse: “Esqueçam sua língua hualapai. Esqueçam a comida
indígena. Esqueçam suas histórias, os nomes das montanhas e rios. Acima de tudo
esqueçam sua língua. Falem apenas em inglês.”
Entretanto, mantemos os
princípios de nossa tradição em nossos corações. É algo que nos dá muito
orgulho dizer: “Aqui está algo que nos pertence. Eis ai a minha língua, assim
foi escrito, é isso que significa”.
Passamos maus momentos
na escola. Queríamos aprender a respeito das cobras e lagartos e tartarugas.
Então descobrimos que estávamos envolvidos em dois mundos diferentes. Tivemos
muito trabalho ao tentar ajustar-nos a esses dois mundos, tentando misturá-los.
Não se pode aprender alguma coisa sem abrir mão de outra. Há muita gente
criativa na reserva. Eles estão em uma situação paradoxal. Aderem aos valores
de seus avós para estar de acordo consigo mesmos e com o meio ambiente. Mas,
quando se trata de conseguir um emprego, não estão qualificados para tanto.
Esse sistema de valores
segue em uma direção e os outros valores vêm na direção oposta. Devemos dizer
aos jovens indígenas que há um lugar intermediário. Nem tanto para cá, mas
exatamente no meio, entre pares opostos.
Harvey Lloyd (Ancião
Nativo da Tribo Hopi do Arizona).
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